A humanidade de Lara Croft | PARTE II: Aventuras e frustrações

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Tomb Raider 2: Starring Lara Croft (1997)
Nota: Se desejar, assista às cinemáticas do jogo legendadas aqui.

Um ano após o sucesso de Tomb Raider, foi lançado o segundo jogo da franquia. De um modo geral, essa aventura trouxe bastante frustração para a nossa aventureira. Sozinha, Lara precisou se virar para conseguir pistas da localização de Marco Bartolli, o "vilão principal", bem como dos artefatos necessários para desbloquear a passagem do Templo de Xian. Nos primeiros arcos, ela não tinha muitas informações, nem mesmo muitas escolhas, e acabou embarcando em viagens bastante complicadas.

Quando Lara entrou escondida no avião de Marco Bartolli, o voo foi bastante complicado — para uma aristocrata podre de rica, as viagens de Lady Croft não corresponderam, digamos, aos luxos de sua classe social.

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Lara à bordo do avião de Marco Bartolli. Algumas turbulências no voo atrapalharam a vida de Lady Croft.

Como se não bastassem os tombos, Croft foi descoberta e levou uma baita cacetada na cabeça. Essa doeu até em mim.

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É importante mencionar os momentos estabanados de nossa anti-heroína, para distinguir muito bem a Lara idealizada e perfeita das propagandas, e a Lara tal como ela é nos jogos. Convém, inclusive, lembrar-se das cenas em que a fria e petulante Lady Croft demonstrou empatia e ajudou estranhos que cruzaram seu caminho. Em um momento de sua aventura, Croft encontrou um monge ferido — o irmão Chan Barkhang — e conversou com ele após analisar seu coração e pulso para conferir seu estado de saúde. Infelizmente, o pobre homem teve um final trágico.


A aventura de Lara se estendeu para um navio naufragado no fundo do Mar Adriático. O destaque dessa viagem é que ela foi de penetra pela segunda vez. Aliás, até aquele momento, em nenhum instante houve a sensação de que Lara tinha algum controle da situação. Ela parecia estar sempre atrasada, e tomava decisões mais sob pressão do que sob planejamento. Para alguém que já foi descrita pela crítica como "a mulher perfeita", Lara tinha defeitos demais.

Lara penetra Croft "à bordo" do minissubmarino, inconvenientemente do lado de fora.
Após conseguir submergir novamente, Croft estava visivelmente cansada. Mas sua expressão era de alívio. Pela primeira vez nessa aventura, concluiu sua expedição com um artefato em mãos — enfim, Lady estabanada. Mas Lara ainda precisava chegar ao Tibete o quanto antes para levar o valioso item. Sem tempo para se preparar, ela roubou um avião — o mesmo que a transportara para lá — e alçou voo. Ainda estava com seu traje clássico por baixo da roupa de mergulho, mas, por sorte, encontrou uma jaqueta de aviador no interior da aeronave. Vestiu-a para se proteger minimamente do frio que a aguardava. Como se não bastassem duas viagens difíceis no mesmo jogo, o avião deu pane em pleno ar, e Lara precisou agir rápido para sair dali. Mais um momento de tensão para a azarada aventureira. Vale a pena assistir à cinemática:



No Tibete, Lara chegou ao Monastério Barkhang e se deparou com o ataque dos capangas de Marco Bartolli contra os monges nativos. Naquele momento, o jogador pôde decidir qual seria a atitude da protagonista: ajudar os monges ou atirar contra eles. Caso escolha ajudar, Lara é permitida andar tranquilamente pelo Monastério. Dessa vez, você, caro leitor, teve o poder de decidir a quantidade de empatia de Lara — não reclame depois.

Lara no Monatério de Barkhang, no Tibete. O uso dos shorts no ambiente gelado foi consequência da falta de tempo para se preparar para a inesperada viagem.
Em comparação com o jogo anterior, Tomb Raider II traz uma Lara mais polida tanto graficamente quando emocionalmente. Ela teve seus momentos de fraqueza e empatia, e o enredo permitiu que o próprio jogador se responsabilizasse pelos seus atos. Ademais, Tomb Raider II reforçou o que já sabíamos desde sua aventura nos Templos de Atlantis: Lara, embora fria, calculista e bastante habilidosa, possui suas limitações e está longe de ser perfeita.

Aliás, para não perder o costume, ao final do jogo, Croft chegou atrasada no salão principal do Templo de Xian, e presenciou Marco Bartolli com a adaga de Xian em mãos executando uma espécie de ritual religioso macabro, com direito a musiquinha sinistra e um ato de suicídio.

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Lara se surpreende ao presenciar o suicídio de Marco Bartolli. A falta de tecnologia não permitia expressões faciais no modelo jogável de Lara.

E você, já conhecia a épica aventura de Lara em Tomb Raider II?

Tomb Raider 3: The Adventures of Lara Croft (1998)
Nota: Se desejar, assista às cinemáticas do jogo legendadas aqui.

Na terceira aventura da franquia, Lara precisou reunir quatro artefatos que, no passado, foram encontrados por um navegador a serviço de Charles Darwin, e espalhados pelo globo. Após coletar o primeiro artefato na Índia, ela conseguiu informações com um pesquisador local. Durante a conversa, destacou-se sua reação ao aceitar a proposta de viajar por cenários nada amigáveis ao redor do mundo para buscar os valiosos itens:

"Sounds good to me" ("Soa bem pra mim"), disse Lara ao pesquisador. Definitivamente, a arqueóloga gostava de aventuras e desafios. É o que a fazia sentir-se viva.
Diferentemente do jogo anterior, aqui Lara teve mais liberdade para escolher aonde ir.

Na sua viagem para as ilhas do Pacífico Sul, ela foi atacada por nativos canibais com lanças e dardos envenenados. Croft não estava interessada em se transformar em almoço, então assassinou os nativos a sangue frio no momento em que foi atacada. É o famoso "antes eles do que eu".

Ainda na aldeia, nossa aventureira encontrou um homem com a perna direita amputada, provavelmente atacado pelos mesmos canibais. Lara demonstrou empatia após ele contar sua trágica história, e prometeu ajudar caso encontrasse algum de seus amigos pela floresta. Lara não tinha expressões faciais, mas seu timbre de voz, muito bem produzido pela dubladora Judith Gibbins, demonstrou o quanto ela teve pena daquele homem, e o respeito pela sua dor.


No fim de sua expedição pelo Pacífico Sul, Croft encontrou outro nativo canibal, que afirmou estar em jejum. Ela poupou sua vida, pois não viu ameaça — Croft não matava apenas por matar, querido leitor. Tão sarcástica quanto possível, ela comentou que era o dia de sorte do rapaz, pois ela também não estava com fome.

Tudo estava indo bem demais, até que a estabanada arqueóloga viajou para os Estados Unidos e tentou uma manobra arriscada com um quadriciclo:


Adicione isso à lista de tombos da aventureira, juntamente com essa outra cena:

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Essa foi por pouco, Lara!

E essa:

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Quem disse que a Lady era perfeita?

Lara também vivenciou momentos em TR3 que demonstraram seu lado empático, como quando encontrou alguns mendigos mascarados que moravam numa estação de metrô abandonada de Londres. Eles lhe contaram que, no passado, foram funcionários da empresária Sophia Leigh, que os usaram para testar seus "produtos de beleza". No entanto, tiveram seus rostos desfigurados pela química dos produtos, e foram descartados como animais após os experimentos darem errado.

Os pobres homens usavam máscaras para esconder seus rostos deformados.
Lara, então, prometeu ajudá-los: durante sua ida ao Museu de Londres, ela roubou um frasco de fluido embalsamado para levar até eles, na tentativa de amenizar suas já condenadas situações dermatológicas. Aliás, o jogo deu a possibilidade de não auxiliá-los, inclusive de matá-los, então fica a cargo do jogador escolher o que fazer. De qualquer modo, quando Lara encontrou Sophia, mostrou-se revoltada pelos danos irreversíveis que aquela psicopata havia causado aos seus funcionários.

Sophia Leigh, no conforto de seu luxuoso escritório, enquanto seus ex-funcionários agonizam abandonados na estação do metrô. O cinismo dela irrita qualquer um.
Depois de um episódio de revolta na cidade de Londres, Lara viajou para a Antártida. Diferentemente da situação do jogo anterior, dessa vez ela teve tempo de se preparar para o frio, então usou um traje bastante adequado para o gélido e perigoso continente. Na Antártida, as limitações de Lara foram colocadas à prova: ela não conseguia manter-se debaixo de águas tão geladas por mais que alguns segundos, antes de morrer de hipotermia — as limitações físicas da Lady eram evidentes.

Traje de Lara em sua expedição no Pólo Sul.
Na Antártida, Croft esbarrou com alguns pesquisadores que lutavam contra seres geneticamente modificados cuspidores de veneno. Aqui, mais uma vez, o jogo dá ao jogador o poder de escolha: Lara pode atirar nos pesquisadores ou se aliar a eles na luta contra as aberrações.

O último destaque do jogo vai para a reação da arqueóloga ao presenciar a insanidade do boss final:

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Susto e perplexidade.

Percepções sobre a franquia

As aventuras de Lara em sua primeira trilogia não lhe trouxeram grandes conflitos pessoais, mas focaram nos seus objetivos enquanto uma arqueóloga que only play for sports. Ainda assim, a anti-heroína vivenciou momentos de frustração, cansaço, revolta, compaixão e perplexidade, precisou lidar com as consequências de seus erros, além de ter suas limitações físicas colocadas à prova diversas vezes. E mais importante: ficou claro que Croft não é somente uma personagem que corre, pula e atira. Suas ações, na verdade, fazem parte da realização da sua vida. Ela tem paixão no que faz, e este é o ponto mais interessante da trama.


Nos jogos seguintes, a personagem foi abordada de uma maneira mais profunda. Surgiram conflitos pessoais capazes de despertar emoções mais intensas, assim como um senso de responsabilidade. Clique aqui para ler a Parte III.





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